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Poesias do Passarinhando

Arco-íris vivo 

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Aves tão coloridas e chamativas,
Belas impressionantes e vistosas,
Sobrevivem e perduram atrativas
Por seleção sexual muito exitosa! 

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Camuflagem é um poder valioso, 
Mas não é o único no jogo da vida,
Conquistar um parceiro é glorioso,
E há outras estratégias na corrida!

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O dimorfismo sexual é fascinante:
O macho desfila em um carnaval,
Já a fêmea é discreta e destoante,
E embora não pareçam um casal,
Se entendem em certeza ululante!

​

Aves sem o dimorfismo sexual
Também são lindas e magníficas,
Com cores e matizes sem igual
Criam relações perenes específicas! 

​

Machos de Tangará-dançarino e soldadinho
Ocupam os holofotes fora dos ninhos,
Enquanto casais de araras e papagaios
Cuidam juntos de todos os filhotinhos.

​

O sucesso evolutivo em sua vasta beleza,
Compõe quadros muito diversos e oportunos,
E meus olhos se deleitam em sua grandeza!

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                                                               Gabriela Larissa Lima da Silva

Extinção a olhos vistos

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Um dia vi um papa-moscas-do-campo no cerrado,
Pássaro pequeno, pálido, preto e amarronzado,
Cheio de encanto, mas se tornando muito raro...

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Queria que a imagem perdurasse,
Queria que todo mundo o visse,
Queria congelar aquela paisagem,
Queria que seu habitat resistisse,
Queria que todos se importassem,
Que desmatamento não existisse. 

​

Infelizmente querer não é poder, 
Isso minha mãe já bem me dizia,
Por isso eu peço, suplico, explico,
Nesta oração em forma de poesia.

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                                                               Gabriela Larissa Lima da Silva

Sons de Encanto

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Ouço o canto das aves,
Cantos graves e suaves... 
Ouço seus chamados,
Irregulares ou ritmados... 

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Linguagem secreta que acalma,
Nos mergulha em lembranças,
As vezes acaricia nossa alma,
E nos enche de esperanças...

​

O bem-te-vi me leva pra infância,
Canário do mato me traz alegria; 
Urutau me fascina em mistério,
Uirapuru verdadeiro é pura poesia,
Asa branca espalma as manhãs,
Sabiá-laranjeira exala harmonia,
Tucano-toco gorjeia tão único, 
Siriema remete à boa compania,
O saudade alarma e estremece,
E a mobelha grande me extasia! 

​

Alegrinho, corrupião e azulão
Com seus cantos melodiosos...
Pica-pau-bufador e suindara 
Com seus sons tão curiosos...

​

Uma infinidade de vocalizações
Que num poema jamais caberia.
Se você aguçar bem os ouvidos, 
Irá enxergar melhor tal iguaria!

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                                                               Gabriela Larissa Lima da Silva

Coruja

​

Ave noturna incompreendida,
Teu pio nunca foi mau agouro.
Singularidade símbolo de vida,
Sua diversidade é um tesouro! 

​

Enxerga através da escuridão,
Impressiona-me em habilidade,
Figura de sabedoria e reflexão; 
Ajude-nos a distinguir a verdade!

​

Corta as estrelas um voo silente,
Deixando-me de súbito inspirada:
Tua presença é um presente, 
A natureza é pra ser celebrada!

                                                               

                                                              Gabriela Larissa Lima da Silva

Autodefesa 

​

Neste meu jardim orvalhado
Voa uma pequena ave arisca 
Ela outrora foi domesticada
E enfim se perdeu de vista. 

​

Pegou o nectar das flores, 
Pousou em minhas árvores,
Aproveitou meus sabores
Cantou canções vulgares. 

​

Agora pia descontente,
Me bica com ferocidade
Voa agitada e inclemente,
E arreda-se sem piedade. 

​

Pobre ave atordoada e ferida:
Eu vejo seu coração em brasa.
Sua dor não passou percebida,
Me deixe logo curar a sua asa!

​

                                                              Gabriela Larissa Lima da Silva

Dicas de Poemas

A uma cotovia (To a Skylark) – Percy Bysshe Shelley

​

Ave, ‘sprito! – certo
tu nunca foste ave –
que do céu, ou perto,
teu coração suava
derramas sem pensar, em arte sem entrave.

​

Alto, e inda mais logo,
vai teu vôo aéreo;
qual nuvem de fogo
pelo azul sidéreo, e voando alças teu vôo etéreo.

​

No acabar louro
do sol que fenece
enublado de ouro,
teu ser sobe e desce
como alegria ideal cujo curso comece.

​

A púrpura cálida
em torno a ti esfria;
como estrela pálida
no já pleno dia
não te vejo, mas ouço essa tua alegria.

​

Fina como a seta
que essa esfera dá
cuja luz se estreita
na alva clara já,
até mal vermos, só sabemos que ali está.

Toda a terra estava
pelo teu cantar,
como, em noite nua,
de nuvem sem par
a tua luz, e o céu transborda de luar.

​

O que és não sabemos;
quem te igualaria?
Das nuvens não vemos
chover, alegria
qual chove sobre nós de ti a melodia.

​

Como poeta oculto
na luz do penar,
cantando o seu culto
‘té o mundo adorar
receios e ilusões que não sabia arriar.

​

Qual nobre donzela
numa torre antiga,
colmando a alma, bela
de amar, com amiga
música como o amor, que ache a torre que a abriga.

​

Como pirilampo
oculto a brilhar
‘spalhando no campo
sua luz lunar
entre as ervas e as flores que o escondem do olhar.

​

Qual rosa que mora
no cálice verde,
e o vento desflora,
e o aroma que cede
embriaga o alado roubador que a perde.

​

Som do v’rão chovendo
sobre a erva rica,
flores renascendo,
tudo quanto fica.
À alma alegre e boa teu canto multiplica.

​

Diz-nos, ‘spirito ou ave,
teu doce pensar:
nunca louvor suave
do vinho ou do amar
ouvi como o teu ser tal gozo transbordar.

​

Coro de himeneu,
alto hino que exulta,
comparado ao teu,
sensabor resulta,
coisas em que a alma sente uma carência oculta.

​

Que coisas são fontes
do teu canto em flor?
Que ondas, campos, montes?
Que céu, de que cor?
Que imenso amor dos teus, que ignorância da dor?

​

Ao teu claro gozo
languidez não vem;
tédio doloroso
não te ensombre o bem,
amas, sem ter sabido o tédio que o amar tem.

​

Dormindo ou desperta,
deves ter da morte
uma luz mais certa
que é da nossa sorte.
Senão teu canto não seria claro e forte.

​

Da saudade ao sonho
aspiramos tanto!
Nosso ar mais risonho
é da dor o manto,
nossas canções mais suas são as de mais pranto.

​

Mas se não tivéssemos
medo, e orgulho, e odiar,
se todos nascêssemos
pra nunca chorar,
nunca ao gozo poderíamos chegar.

​​

Mais que todo o ouro
que um canto descerra
que todo o tesouro
que em livros se encerra,
teu canto ao poeta val’, desdenhador da terra!

​

Soubesse eu o que goza
tua alma, e tal fora
minha harmoniosa
lírica loucura
que o mundo escutaria como escuto agora.

​

                                                                              (*To a skylark – tradução de Fernando Pessoa)

Pássaro azul (Blue Bird) - Charles Bukowski

​

Tenho um pássaro azul no meu coração que
quer sair
mas sou demasiado forte para ele,
digo-lhe, fica aí dentro, não vou
deixar que ninguém
te veja.
tenho um pássaro azul no meu coração que
quer sair
mas despejo-lhe whiskey em cima e inalo
o fumo dos cigarros
e as prostitutas e os baristas
e os caixeiros das mercearias
não suspeitam sequer que
ele está
ali dentro.

​

Tenho um pássaro azul no meu coração que
quer sair
mas sou demasiado forte para ele,
digo-lhe,
fica no teu lugar, queres dar cabo
de mim?
queres mandar pelos ares todo o meu
trabalho?
queres estourar com a venda do meu livro na
Europa?
tenho um pássaro azul no meu coração que
quer sair
mas sou muito mais esperto, só o deixo sair
à noite de vez em vez
enquanto toda a gente dorme.
digo-lhe, eu sei que estás aí,
por isso, não fiques
triste.
depois meto-o de volta,
mas põe-se a cantarolar um bocadinho
lá dentro, não o deixei propriamente
morrer
e nós dormimos juntos
assim
com o nosso
pacto secreto
e ele é tão gracioso ao ponto de
pôr um homem
a chorar, mas eu não
choro, tu
sim?

                                                                                              (*Blue Bird – tradução de João Coles)

De Passarinhos - Manoel de Barros

Para compor um tratado de passarinhos
É preciso por primeiro que haja um rio com árvores
e palmeiras nas margens.
E dentro dos quintais das casas que haja pelo menos
goiabeiras.
E que haja por perto brejos e iguarias de brejos.
É preciso que haja insetos para os passarinhos.
Insetos de pau sobretudo que são os mais palatáveis.
A presença de libélulas seria uma boa.
O azul é muito importante na vida dos passarinhos
Porque os passarinhos precisam antes de belos ser
eternos.
Eternos que nem uma fuga de Bach.

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                                        BARROS, M. Compêndio para uso dos pássaro. Rio de Janeiro: Quasi Edições, 2007.

Os Cisnes Selvagens de Coole – William Butler Yeats

​

O arvoredo refulge no esplendor do outono,
Nas veredas do bosque está seco o terreno,
O lago no crepúsculo de outubro
Espelha um céu sereno;
Nas águas, entre as pedras transbordando,
Cinquenta e nove cisnes vão-se em bando.

​

Já venho aqui por dezenove outonos,
Pelo que pude contar;
Mal terminei, voou o grupo todo
Para no azul se espalhar,
Girando em voltas descontínuas e grandiosas
Com asas clamorosas.

Tenho observado essas brilhantes criaturas,
E sinto no peito uma chaga.


Tudo mudou desde que, ouvindo no crepúsculo
Esse badalo de asa nesta plaga
Pela primeira vez cortar o espaço,
Pisava mais leve o meu passo.

​

Incansáveis ainda, amante junto a amante,
Remam no frio da amável correnteza
Ou escalam os ares;
Nos corações o tempo não lhes pesa;
Emoção ou conquista, aonde quer que vão,
São sempre o seu quinhão.

Mas agora deslizam na água calma
Com sua beleza e mistério.


Em meio a que caniços construirão?
Junto a que lago serão nosso refrigério,
Quando eu, despertando num aurora,
Notar que se foram embora?

                                                                (*The Wild Swans at Coole – tradução de Paulo Vizioli)

Dicas de Leitura

  • "Conferência dos Pássaros" – Farid ud-Din Attar

    • Esta é uma das obras mais primorosas da tradição oriental, fonte de inspiração para inúmeros escritores de todas as partes do mundo. Cheia de imagens marcantes, ensinamentos e reflexões, conta a jornada de um grupo de pássaros, que, para tentar encontrar uma solução para tanta descrença e miséria no mundo em que viviam, saem em busca do rei Simorgh, o grande sábio que tem a resposta para todas as perguntas. Esta é uma aventura que, reescrita por um grande nome da literatura infantil para encantar as crianças, não deixará de comover os adultos, com seu texto sensível.

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  • "H is for Hawk" – Helen Macdonald

    • Best-seller instantâneo do New York Times, a história de Helen Macdonald sobre a adoção e criação de um dos predadores mais vorazes da natureza, elevou-se aos corações de milhões de leitores em todo o mundo. Feroz e selvagem, o temperamento de Mabel, seu gavião, reflete o próprio estado de luto de Helen após a morte de seu pai, e juntos, raptor e humano "descobrem a dor e a beleza de estar vivo" . 

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  • "Arte de Pássaros" – Pablo Neruda

    • Considerada como uma obra monumental de Pablo Neruda, Arte de Pássaros explora o lado da riqueza da natureza chilena e do olhar meticuloso do falecido escritor. Esta é uma obra em que o poeta chileno reflete sobre sua paixão por esses animais, além da riqueza natural de sua tão amada terra. Esta edição bilíngue está destinada não apenas aos leitores de Neruda, mas a todos que apreciam a natureza e a literatura.

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  • "The Birdcatcher" – Marie Ponsot

    • Em 1998, Marie Ponsot recebeu o prêmio National Book Critics Circle Award de poesia, confirmando os elogios que lhe foram concedidos por críticos e colegas — entre eles Eavan Boland e Carolyn Kizer (que são citados na contracapa do livro) e Amy Clampitt, que disse o seguinte sobre o último livro de Ponsot: "Ela está maravilhosamente sintonizada com o visual e o audível. Ela não é menos precisamente uma geógrafa da vida interior, acima de tudo da experiência de ser mulher."

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